Memorial do Convento
José Saramago
A minha ideia, quando concebi o Memorial do Convento estava limitada à construção do convento e é depois que verifico que nessa mesma época um padre tinha a ideia de fazer uma máquina de voar. Então este facto modificou-o completamente… A partir daí, o romance tinha que ser diferente, completamente diferente. E toda a oposição entre o que cai e o que sobe, entre o
pesado e o leve, o que quer voar e o que impede que voe; toda essa relação relação entre liberdade liberdade e autoridade, autoridade, entre invenção invenção e convenção, ganha uma dimensão que antes não estava nos meus propósitos e que modifica completamente o romance. Com essa figura que está entre os dois mundos, o que significa que está num ter
ceiro, o mundo mais próximo da natureza, isto é, ao ser natural, se é que existe. Acho que não existe. Todos somos seres culturais, por um olhar, por um entendimento, conseguimos ir mais fundo que a superfície das coisas. E isso, esse aspecto complexo, é o que impede que o Memorial seja lido em linha recta, porque exige constantemente outras leituras e outras interpretações
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